sexta-feira, março 30, 2007

É... É isso sim...

A madrugada pariava suave e amena. Ainda eram 14:00 horas da manhã no verão carioca e os termômetros descalibrados indicavam módicos 43 graus centígrados.

Não queria acordar, mas o teto ainda girava sobre a minha cabeca sem me deixar prolongar o sono necessário. Girava, latejava e doía. O suor cheirava a álcool e escorria pelas minhas costas. Talvez tenha sido o produto utilizado na limpeza do quarto... É... É isso sim... Mas o que eu sei é que meu organismo necessitava de algum isotônico glicóico. O melhor local para encontrar a água de côco era na geladeira (gatorade nem pensar).

Nunca tinha notado como o corredor que vai em éle até a sala era tão estreito. É... É isso sim... A parede insistia em me tocar diversas vezes ao longo do percurso... O "aprazível" sabor de guarda chuva marcava meu paladar. (Quem foi mesmo que já provou um guarda chuva?). Mas tinha a bendita água de côco pra me salvar...

A geladeira estava lá. Tranquila. Fiel. Monolítica. Branquinha, com seu zumbido baixo... Me segurei na porta... E fui puxando levemente, com prazer... Escutei o barulho das borrachas se descolando da parede. Olhei seu interior, gelado... Nunca tive tanta vontade de ser uma garrafa d'água...

Logo vi: lá estava a garrafa de água de côco pra salvar meu dia... É... É isso sim... vazia...

Olhei novamente o resto do espaço gelado. Minha vista estava focada em busca de uma coca-cola ou em um mamão papaya, bem docinho... Sem querer senti meu braco empurrando a porta. É... É isso sim...

Lutei contra esse ato irracional e tornei a abrí-la. Olhei. Fechei. Repeti, incrédulo. Abri, olhei, fechei. Num último sinal de desespero (a natureza é sábia... tenta proteger a vida humana a qualquer custo... É... É isso sim...) eu abrí novamente a porta hermética: Entre os enormes hiatos eu conseguia distinguir claramente um ovo podre com a casca rachada, três laranjas que se assemelhavam a uvas passas e 4 latas de cerveja, estupidamente geladas. É... É isso sim...