quarta-feira, junho 04, 2008

Sem sentido (ou "Take it easy my brother Charles" ou Otimismo ou ainda Merda lapidada - talvez o melhor...)

Tranquilize-se.

Não ficarei mais magoado. Estou envolto cascas. Minhas próprias cascas. Duras. Repletas de espinhos. Ásperas, maltratadas pelo tempo. Não há mais brisa, não há mais frio.

Não somente cascas me protegem. A acidez amarga do meu fígado não se esconde mais. A saliva grossa garante sempre o mesmo paladar: insosso. Não sinto mais o gosto das fortes pimentas ou das perfumadas especiarias.

Todo esse bloqueio seria inócuo, não fosse esse muco espesso que escorre do meu nariz. Não sinto mais poeira, pólen ou sentimento. As rosas não perfumam mais meu quarto, "apenas exalam".

Não espero um eco seu! Não quero escutar. A cera densa dos meus ouvidos bloqueiam o frescor do ar. Nada penetra em minha mente. Críticas, resmungos, Bach. Nada!

Minha visão, cansada. Distorcida e pálida. As remelas em meus olhos me protegem e os poemas, não me arrisco mais a ler-lhes. As cores do mar, mal consigo ver.

Mesmo que tirasse os óculos para enxergar, asseguro-lhe que nada mais iria me impressionar. Nada novo iria ver. Muitas lágrimas já derramei. Muito choro já escutei. Muito frio e fome já passei. Muita poeira já cheirei. Muito amargo já provei. Não quero me impressionar.

Não quero mais.
É amigo. Não posso mais.

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