quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Deselegância discreta

Nunca tive simpatia. Talvez certa repulsa.

Traumas de infância, quando o pai queria seguir as ideias de um amigo e abandonar tudo por aqui, amigos, lar, primos, tias, avós, para ir para um local melhor de se morar? (Será? Espero que não, muito ridículo). Depois dessa jornada quixotesca não consolidada vieram outras experiências negativas... A richa entre os vizinhos também tinha um certo peso... na base da brincadeira mas tinha. Quando se repete diversas vezes uma coisa pra si mesmo ela acaba ganhando força na sua cabeça. Pra coisas ruins e boas.

Por mais que me esforce não consiguirei esquecer o inferno de ir direto de São Lourenço para o Inverno de Dante, em sua avenida principal. Junto com minha mãe, saí do metrô mas não consegui ficar nem dez minutos na garôa. Garôa poluída, esfumaçada. Os olhos ardiam junto com todo o interior do rosto e garganta. Chorava por defesa natural do organismo ao ataque químico. Um shopping foi o alívio durante os quinze minutos seguintes, tempo necessário para recuperar o fôlego e entrar correndo no metrô. Volta forçada para o apartamento no sub-solo, onde as paredes suavam de tanta umidade. Na volta pra casa ainda teve assalto no merô. (E isso tudo foi amostra grátis das dores que estavam por vir. Inevitavelmente estarão sempre associadas ao local.).

No ano passado, nova onda de repugnância. Dessa vez por causa de fantasmas que talvez fossem inexistentes, mas que povoaram minhas passagens por algumas ruas nas inúmeras voltas para o aeroporto.

O que não se pode tentar comparar é a beleza e estilo de vida nos dois lugares... aí é covardia... Aqui se faz mais bem feito, mais pra frente. Lá é muito urbano, demais para mim. Poucas cidades podem se dar ao luxo de não conviverem com uma natureza exuberante. A natureza recarrega, energiza. Principalmente quando associada ao mar.

Apesar do aspecto repugnante de asfalto, concreto, carros e fumaça (por todo lado), a cidade tem seus atrativos. Costumo dizer que se o Rio fosse daquele tamanho nada funcionaria. Lá parece mais uma cidade de verdade, organizada, com regras cívicas (pelo menos onde há grana). Os rostos são lindos. Num dia de céu azul é agradável desfilar entre os arranha céus repletos de cafés na avenida que move o país. Muitos amigos foram morar naquelas bandas, onde está "a força da grana que ergue e destrói coisas belas". E eles não voltarão. Sei que não. Não só "Aprenderam depressa a chamar-te de realidade". Gostaram-te.

Hoje quando voltava fiquei pensando que talvez eu tenha mas a ver com o povo de lá do que daqui. Já me perguntaram muitas vezes de onde eu era: não tenho jeitão de carioca. Nem sotaque eu tenho muito (não pede pra falar festa!). E coincidentemente ou não, tenho conhecido gente bacana daquelas bandas... Talvez na média mais bacanas que cariocas... (aliás, os cariocas têm me parecido tão chatos ultimamente a ponto de ter me pego mais de uma vez concordando com os supostos motivos que estragam a cidade...).

Mas quando acordei desse pesadelo estava voando do lado do Cristo, vendo seus "braços abertos sobre a Guanabara"...

Ufa!!!